sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Marista Cearense


Vinda de uma outra escola, a menininha perguntou ao então diretor do Colégio marista Cearense o motivo pelo qual não se elegia a rainha do Colégio Cearense. Com paciência de santo, o diretor respondeu que não era necessário, pois todas as alunas da escola eram rainhas do Colégio Cearense. Não sei se de início a garota aceitou muito bem, mas depois, com certeza.

Ver o diretor catando papel na hora do recreio ou até mesmo “batendo uma bolinha” com os alunos, era coisa mais que comum naquela escola: a pedagogia da presença, sabíamos.

Na maioria das escolas, meninos e meninas não vêem a hora de ir pra casa. Não lá. Ao contrário, “precisavam ser mandados embora”, pois se dependesse deles, não arredariam pé. Aqueles que estudavam à tarde chegavam cedo, quase pela manhã. Os que estudavam pela manhã entravam pela tarde. Chegava a noite e, meninos e meninas ainda preenchiam de alegria as quadra e pátios do Colégio Cearense.

Para quem não teve a chance de estudar ou trabalhar lá é difícil compreender exatamente o que era tudo aquilo. No coração de Fortaleza ( como imaginar uma cidade sem coração?), “por Deus, pela Pátria e por Maria...”, o Cearense formou muita gente boa. Dizem que muita gente que é importante ( todo mundo é importante!) e famosa passou por lá. Mas fiquemos apenas com os bons. E por formar gente boa o Cearense pagou um preço muito alto.

Formar cidadãos exige responsabilidade, respeito e ética. O Cearense jamais negociou o “passe” dos seus alunos, jamais os dividiu em vencedores e perdedores, nem estampou seus rostos, como produtos, pelos quatro cantos da cidade. Assim, como diz a canção: “ o preço que se paga às vezes é alto demais”. Dessa forma, o anúncio de que o Colégio Cearense fechou suas portas no dia 31 de dezembro de 2007, além de enlutar o coração daqueles que lá conviveram, deveria servir de motivo para debates acerca das escolas que temos, do ensino que oferecem. Mas afinal, que educação precisamos? Mas como sempre acontece, nada será feito. No máximo, algumas pobres notas nos jornais. Um abraço no Colégio? Talvez.

O mais importante mesmo é que o Colégio Cearense fecha, mas não acaba. Ele estará sempre nos corações e nas atitudes de cada homem e de cada mulher, que quando menino, menina, jovem ocupou seus bancos, suas quadras, seus pátios... Seu ventre.

Carlos Carvalho

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